Na prática, simplesmente não há meio de termos uma instituição de
propriedade de “pets” (ou animais “de estimação”) que seja coerente com uma
teoria de direitos animais sólida. Os “pets” são propriedade e, como tal, sua
valoração será, no final das contas, uma questão de o que os seus “donos”
decidirem.
Mas vocês podem perguntar: “E se fosse possível? Se, em termos
hipotéticos, mudássemos o status legal dos cães e gatos para que eles deixassem
de ser propriedade e tivessem um status legal mais próximo ao das crianças
humanas, seria moralmente justificável continuarmos a produzir cães e gatos (ou
outros animais não humanos) e manter ‘pets’?”
Minha resposta a essa pergunta puramente hipotética é “não”. Não podemos
justificar o perpetuamento da domesticação para o propósito de manter “pets”.
Os animais domesticados dependem de nós para tudo que é importante em
suas vidas: quando e se comem ou tomam água, quando e onde dormem ou fazem suas
necessidades, se recebem afeto, se se exercitam, etc. Embora alguém possa dizer
o mesmo em relação às crianças humanas, em sua grande maioria elas amadurecem e
se tornam seres autônomos, independentes.
Os animais domésticos não são uma parte real nem completa do nosso
mundo, e nem do mundo não humano. Eles existem para sempre em um inferno de
vulnerabilidades, dependentes de nós para tudo, e correndo o risco de sofrer
danos por causa de um ambiente que não entendem de fato. Nós os criamos para
ser obedientes e servis, ou para ter características que, na realidade, são
prejudiciais para eles mas agradáveis para nós. Podemos fazê-los felizes em um
certo sentido, mas o relacionamento nunca pode ser “natural” ou “normal”. Eles
não pertencem ao nosso mundo, independentemente de quão bem os tratamos.
Não poderíamos justificar essa instituição, nem mesmo se ela parecesse
bem diferente do que é atualmente. Minha companheira e eu vivemos com cinco
cachorros resgatados, incluindo alguns que tinham problemas de saúde quando os
adotamos. Nós os amamos muito e fazemos de tudo para lhes oferecer o melhor
cuidado e tratamento. (E, antes que alguém pergunte, nós sete somos veganos!).
Você provavelmente não acharia duas pessoas no planeta que gostem mais de viver
com cachorros do que nós.
E nós dois incentivamos todas as pessoas com condições de adotar ou
hospedar animais (de qualquer espécie) a fazê-lo o mais que puderem, de maneira
responsável.
Mas se restassem apenas uma cadela e um cachorro no universo e
dependesse de nós resolver se eles podiam procriar para que pudéssemos
continuar vivendo com cães, e mesmo se pudéssemos garantir que todos eles tivessem
lares tão cheios de amor como o que lhes proporcionamos, não hesitaríamos por
um segundo em dar fim a toda a instituição da propriedade de “pets”.
Consideramos os cachorros que vivem conosco uma espécie de refugiados, e embora gostemos de cuidar
deles, é evidente que os humanos não devem continuar trazendo essas criaturas a
um mundo em que elas simplesmente não se encaixam.
Eu compreendo que muita gente ficará perplexa com minha argumentação
sobre os problemas inerentes à domesticação. Mas isso é porque vivemos em um
mundo onde matamos e comemos 56 bilhões de animais por ano (sem contar os
peixes) e onde nossa melhor justificação para essa prática é que gostamos do
sabor das carnes e outros produtos animais. A maioria de vocês que estão lendo
isto agora provavelmente não é vegana. E enquanto vocês pensarem que é
aceitável matar e comer animais, a argumentação mais abstrata sobre domesticar
animais para usá-los como “pets” provavelmente não repercutirá. Eu entendo isso.
Então, dediquem uns poucos minutos à leitura de alguns dos muitos outros
textos deste site que discutem o veganismo, como Por
que o veganismo deve ser a base.
E depois reconsiderem a questão dos “pets” ou animais “de estimação”. Eu
também a discuto em dois podcasts: “Animais
de estimação” e Continuação do
Comentário “Animais de estimação”: gatos não-veganos.
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Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não
violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres
sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si
mesmo.
Se você tiver condições de adotar ou hospedar algum animal não humano,
por favor faça isso. A domesticação é moralmente errada, mas esses animais
estão aqui, agora, e necessitam do nosso cuidado. Suas vidas são tão
importantes para eles quanto as nossas para nós.
Gary L. Francione
Professor, Rutgers University
© 2012 Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda