quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Novo livro em breve!

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 24 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Meu novo livro, The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, será publicado pela Columbia University Press em maio. Na primeira parte, eu defendo a abordagem abolicionista. Na segunda, o professor Robert Garner, da University of Leicester (Reino Unido), defende a abordagem protecionista (à qual eu me refiro como “novo bem-estar”). Na terceira parte, eu e o professor Garner discutimos e debatemos questões como o status moral dos animais não-humanos e a eficácia das reformas bem-estaristas.
Espero que este livro os ajude a refletir sobre as questões envolvidas e os auxilie em seu ativismo.
Se vocês não forem veganos, tornem-se veganos! Os produtos animais são prejudiciais à sua saúde e a produção de animais para comida é um desastre ecológico. Mas o mais importante é que o veganismo é a coisa moralmente certa a fazer. Ele representa sua celebração diária da não-violência.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

Opposing Views: Sobre a violência

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 23 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
O site Opposing Views postou o meu ensaio Sobre a violência. Ele gerou uma animada discussão com bem mais de 200 comentários. Leiam os diferentes comentários e decidam por si mesmos.
Se vocês ainda não forem veganos, tornem-se veganos! Os produtos animais são prejudiciais à sua saúde e a produção de animais para comida é um desastre ecológico. Mas o mais importante é que o veganismo é a coisa moralmente certa a fazer. Ele representa sua celebração diária da não-violência.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre a violência

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 14 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Infelizmente, há pessoas que se identificam como defensoras dos animais que alegam que a solução para o problema da exploração animal é a violência.
Algumas delas realmente praticaram atos de violência contra exploradores institucionais. Outras incitam atos de violência, clamando para que as pessoas usem de “intimidação” contra os exploradores de animais ou os deixem “com medo” da violência retaliatória.
Fora os aspectos morais/espirituais da violência, quem a promove está profundamente confuso quanto aos fundamentos econômicos da exploração animal. Os usuários institucionais se ocupam da exploração animal porque o público constitui uma demanda por essa exploração. Para a maioria dos usuários institucionais, tanto faz se eles estão vendendo carne ou banana. Eles vão colocar seu capital onde quer que tiverem o melhor retorno.
A maioria das pessoas considera o uso de animais “normal”, no mesmo sentido em que respirar e tomar água são considerados “normais”. Elas constituem uma demanda por produtos animais. Se você destruir dez matadouros hoje, enquanto a demanda continuar existindo serão construídos mais dez matadouros, ou então os dez que já existem expandirão sua produção (e provavelmente tornarão a produção mais eficiente em termos econômicos). Se você fechar um empreendimento que fornece animais para ser usados em vivissecção, e o público continuar a apoiar a vivissecção, coisa que claramente faz, então um outro fornecedor emergirá. Portanto, como uma questão puramente prática, a violência é uma estratégia incapaz de funcionar.
Enquanto o uso de animais for considerado normal e algo que não suscita uma questão moral fundamental, nada vai mudar. Mas não é por meio de intimidação, medo e atos de violência que nós vamos conseguir fazer as pessoas pensarem sobre o uso de animais. Para a educação ser efetiva, ela nunca pode ser violenta; ela nunca pode tentar intimidar as pessoas ou deixá-las com medo. Ela deve abrir seus corações e suas mentes. A estratégia não-violenta não é nada passiva; ela envolve trabalharmos ativa, constante e criativamente para mudar um paradigma fundamental —a noção de que os animais são coisas, recursos, propriedade; de que eles são exclusivamente meios para os fins humanos.
E está claro que nossos esforços para educar estão dando certo. Está emergindo um diálogo sobre o uso de animais, que vai além das questões do tratamento “humanitário”. Há um constante fluxo de histórias sobre como as pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes da esquizofrenia moral que caracteriza a relação entre humanos e não-humanos.
Aqueles que promovem a violência não estão somente confusos quanto às questões econômicas básicas, mas estão também impedindo esse progresso porque fornecem um alvo fácil que dá as pessoas uma desculpa para elas descartarem o problema da exploração animal. Sob esse aspecto, as pessoas a favor da violência são semelhantes àquelas que promovem o sexismo.
Será que Martin Luther King teria feito uma campanha pelos direitos civis afirmando “Prefiro andar nu a sentar no fundo do ônibus”?
Claro que não.
Será que King ou Gandhi teriam nos incitado a “intimidar” os outros e a deixar os outros “com medo” de se tornarem vítimas de atos violentos?
Claro que não.
Às vezes, quando vejo algumas das coisas que as pessoas a favor da violência dizem ou fazem (ou quando vejo um vídeo com uma mulher fazendo um striptease “pelos animais”), eu me pergunto o que as pessoas poderiam fazer que fosse pior, em termos de convencer o público a levar esta questão a sério. De fato, parece que essas pessoas estão tentando sabotar uma mudança significativa.
Para mais discussão referente a essas questões, ouçam o Comentário em podcast que eu fiz sobre este assunto, ou leiam os textos Um comentário sobre a violência, Mais sobre violência e direitos animais e Sobre vivissecção e violência, todos neste site.
Eu também discuto a questão da violência em meu próximo livro, em coautoria com o Dr. Robert Garner, The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, que será publicado pela Columbia University Press em maio de 2010.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vegetarianismo primeiro?

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 3 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
The Vegan, a revista da The Vegan Society (U.K.), está prestes a publicar seu número da primavera de 2010. Nesse número, eu tenho um ensaio, Vegetarianism First? [Vegetarianismo primeiro?], que discute a noção de que deveríamos promover o vegetarianismo como uma “porta de entrada” para o veganismo e propõe que isso é um erro tanto no nível prático quanto no nível teórico. Tenho tratado dessa questão em outros ensaios do blog neste site (vejam 1, 2, 3, 4), assim como em meus livros e artigos.
A Vegan Society vai me fornecer um PDF com uma resolução mais alta, que vou deixar disponível assim que puder. Espero que isso seja lhes seja útil durante seu ativismo pela educação vegana não-violenta criativa.
Também, o ROROTOKO é um respeitado site que seleciona certos livros e entrevista autores. Meu livro, Animal as Persons: Essays on the Abolition of Animal Exploitation, publicado em 2008 pela Columbia University Press, foi escolhido como assunto da entrevista de capa da edição de 1 de fevereiro de 2010 de ROROTOKO.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Veganismo: moralidade, saúde e ambiente

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 3 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Pelo menos cinco vezes por semana, eu recebo alguma versão da seguinte pergunta:
Ao argumentarmos a favor do veganismo, deveríamos ficar só com o argumento moral, e é “errado,” ou então “se vender, apoiar-se nos argumentos baseados na saúde humana e no ambiente?
Logo vou fazer um podcast sobre isso, mas já queria esclarecer um ponto: os limites entre esses argumentos não são tão claros quanto você poderia pensar, pois os argumentos baseados na saúde e no ambiente têm dimensões morais.
Quando falo em direitos animais, eu enfatizo o argumento moral baseado em uma reinterpretação da tradição filosófica ocidental. Também discuto o componente espiritual da Ahimsa  ou não-violência, que, para mim, tem sido uma parte importante do meu veganismo durante os últimos 28 anos. O componente espiritual certamente não é necessário para se chegar a uma conclusão abolicionista; eu não me apoio nisso, por exemplo, na argumentação filosófica que desenvolvo em meu livro Introduction to Animal Rights: Your Child or the Dog?. Mas meu compromisso com a não-violência é uma parte significativa do meu pensamento.
Eu também falo sobre a saúde e o ambiente como parte da análise moral/espiritual.
Temos uma obrigação moral, para conosco mesmos, de ser sadios; ingerir produtos que nos causam dano é uma forma de violência que infligimos a nós mesmos. Está cada dia mais forte a evidência empírica de que os produtos animais não são apenas desnecessários à nossa saúde; eles na verdade fazem mal aos nossos corpos de tudo quanto é modo. Até mesmo pequenas quantidades de produtos animais podem ser prejudiciais. Assim como temos a obrigação moral de não fumar cigarros (nem mesmo “só uns dois ou três”), temos a obrigação de assegurar que as coisas que pomos dentro de e sobre nossos corpos (lembre-se de que o que você põe na sua pele entra no seu corpo!) não nos causem dano. Temos essa obrigação não apenas para conosco mesmos, mas para com os animais humanos e não-humanos que nos amam e que dependem de nós.
De modo semelhante, embora eu não acredite que possamos ter obrigações morais diretamente para com os seres não sencientes, nós certamente temos uma obrigação para com todos os seres sencientes que vivem no ambiente não senciente. De fato, como há tantos seres sencientes que habitam o ambiente, é difícil ver o ambiente como não senciente sob qualquer aspecto que afete nossas obrigações morais. Uma árvore pode não ser senciente no sentido de ser perceptivamente consciente, mas há muitos seres sencientes que vivem na árvore ou que dependem da árvore. E todos os seres sencientes –humanos e não-humanos– dependem do ambiente para um ecossistema sadio. A destruição do ambiente suscita muitas questões morais e espirituais sérias. Uma produção de alimentos baseada em animais está destruindo o ambiente e todos os seres sencientes que estão nele.
Uma objeção comum ao veganismo é que se todos nós tivéssemos uma dieta baseada em plantas, teríamos de cultivar mais terra, e isso resultaria em matarmos mais não-humanos sencientes. Mas isso não é verdadeiro. Atualmente, destinamos a maior parte dos alimentos baseados em plantas à alimentação dos animais, que precisam de quilos e quilos de proteína vegetal para produzir um quilo de carne. Se comêssemos as plantas diretamente, precisaríamos de menos plantas e não necessitaríamos destruir ecossistemas a fim de poder ter mais área para pastagem.
Então, no fim, embora eu afirme que o argumento moral a favor dos direitos animais e o argumento espiritual a favor da não-violência sejam as noções mais importantes, nós também temos a obrigação moral para conosco mesmos (e para com os humanos e não-humanos que dependem de nós) de manter e melhorar nossa saúde, e a obrigação para com os humanos e os não-humanos de não destruir o ambiente.
Como eu disse no início, logo vou fazer um podcast. Mas tenho de terminar a etapa final do meu próximo livro, The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, que a Columbia University Press vai publicar em maio. Então eu talvez não escreva tanto no blog, mas devo terminar aquilo logo e voltar a todo vapor.
Então, se você não for vegano(a), torne-se vegano(a). É realmente fácil. É melhor para a nossa saúde. É melhor para o planeta. Mas o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer. Todos nós dizemos que rejeitamos a violência. Vamos levar a sério o que dizemos. Vamos dar um passo importante para reduzir a violência no mundo, começando com o que pomos na nossa boca e no nosso corpo.
E lembre-se, não é uma impossibilidade: O MUNDO É VEGANO! Se você quiser.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Toda campanha é uma “campanha de um só tema”?

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 3 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Em resposta aos meus comentários (1, 2) sobre o assunto Johnny Weir e ao meu comentário geral sobre campanhas centradas em um só tema, algumas pessoas disseram que se a questão Johnny Weir é uma campanha de um só tema, então todas as campanhas, inclusive os esforços de promover o resgate e a adoção de animais, os santuários e até mesmo o veganismo são campanhas de um só tema.
Essa afirmação revela uma profunda falta de compreensão da natureza de uma campanha de um só tema.
Uma campanha de um só tema envolve identificar alguns usos específicos de animais ou alguma forma de tratamento, e fazer disso o objeto de uma campanha para cessar o uso ou modificar o tratamento. O problema da campanha de um só tema é que ela apresenta um uso específico ou um tratamento como moralmente distinguível das outras formas de uso ou tratamento, e, ao fazer isso, dá a entender, explícita ou implicitamente, que as outras formas de exploração são menos problemáticas no plano moral.
A questão Weir apresenta um exemplo clássico do problema. Foi escrita uma carta aberta a Weir, reclamando do fato de ele usar pele no ombro de seu figurino. Não foi uma carta aberta escrita para a equipe inteira, relativa ao uso das peles dos animais em geral, incluindo seus patins de couro ou quaisquer peças de vestuário de lã ou seda. A carta aberta focou em um só produto animal sendo usado por uma só pessoa em uma só instância.
O principal problema desse tipo de campanha é que não há nenhuma distinção moral coerente entre pele, couro, lã e seda. Weir, de forma muito efetiva, desviou a atenção do assunto principal da carta aberta, fazendo, ele mesmo, essa simples observação:
“Todos os patinadores estão usando patins feitos de vaca”, disse Weir.
“Talvez eu esteja usado uma raposinha bonitinha, enquanto os demais estão usando vaca, mas todos nós estamos usando animais”.
Além do mais, a carta aberta não apenas promoveu uma campanha de um só tema, mas fez isso no contexto da reforma bem-estarista tradicional, porque fala sobre tratamento e não sobre uso. A carta aberta focou na “indústria” da pele e no tratamento implicado nos abates nas fazendas de pele ou na floresta. Falar em fazendas de peles e armadilhas é um convite à resposta: “OK, então devemos descobrir um modo de tornar a produção de peles mais ‘humanitária’”.
No que concerne a animais domesticados, animais de fazenda e animais selvagens que precisam de lares, as tentativas ou esforços de proporcionar esses lares não constituem campanhas de um só tema, ou pelo menos não da maneira que prevê os problemas que identifiquei. Ao domesticar os animais não-humanos, nós os metemos numa terrível enrascada, e se pudermos removê-los  de um abrigo que mata ou então das ruas, devemos fazê-lo. Dentro da medida em que temos a oportunidade de oferecer um lar a um animal domesticado ou selvagem, essa é uma coisa boa. Esses são esforços que envolvem o auxílio a animais individuais (ou animais em situação individual); não são campanhas que têm como alvo usos ou práticas que identificamos como piores do que outros usos ou práticas necessária e implicitamente aprovados por nós pelas razões discutidas em meu ensaio precedente. São atividades qualitativamente diferentes.
E eu sempre falo sobre adoção/resgate de animais dentro de uma estrutura específica que rejeita o uso e enfatiza o veganismo ético como a questão central. Eu nunca falo sobre adoção/resgate como uma atividade isolada, mas apenas como uma entre as muitas obrigações que compreendem a abordagem abolicionista como um todo. Embora eu apoie a adoção de não-humanos sem lar porque esses indivíduos precisam de lares, eu sempre deixo bem claro que devemos parar completamente de produzir ou de facilitar a produção de não-humanos domesticados.
A “carta aberta” a Johnny Weir não faz nenhuma dessas coisas. Teria sido possível escrever uma carta a Weir que mencionasse a pele como apenas um aspecto de uma mensagem abolicionista geral, que também discutisse explicitamente o uso de todas as peles de animais incluindo couro, lã, etc., e que mencionasse o veganismo. Essa carta teria apresentado uma mensagem forte, em vez de uma mensagem fraca que faz a pele parecer moralmente distinguível do couro (ou dos outros produtos animais que nem sequer foram mencionados) e que Weir efetivamente descartou em duas sentenças.
Eu também apoio santuários, mas, de novo, eu falo sobre santuários como uma parte de uma abordagem abolicionista geral, e eu promovo esses santuários que transmitem uma mensagem explicitamente abolicionista. Dentro da medida em que um santuário proporciona um lar para os animais, isso é bom, mas, dentro da medida em que o santuário também apoia uma mensagem reformista bem-estarista, ou promove campanhas centradas em um só tema, eles desfazem pelo menos uma parte da coisa boa que fazem.
Eu também acho que pode ser que os santuários sejam usados por grupos endinheirados para levantar fundos. Se você quiser contribuir para um santuário, você deve se informar sobre as finanças desse santuário e consultar a respeito dos salários pagos às pessoas envolvidas na organização que o administra.
Também, algumas pessoas sugeriram que nós não deveríamos criticar a campanha de um só tema ou bem-estarista de um grupo que também administra um santuário porque isso poderia afetar as doações que são feitas ao grupo, o que poderia prejudicar os animais. Essa sugestão é uma variante do argumento geral que ouvimos o tempo todo: “O grupo X faz coisas boas para os animais, portanto não critique o que o grupo X faz, porque isso prejudicará os esforços desse grupo para ajudar os animais”. Isso é receita certa para o desastre e para a morte de um movimento social. Foi precisamente esse raciocínio que levou o movimento dominante a permanecer em silêncio diante da obscenidade que é a matança cometida pela PETA de 85% dos animais que ela mesma “resgata” e do persistente uso que essa organização faz da misoginia como estratégia de marketing.
Quanto à campanha pelo veganismo ser uma campanha de um só tema, eu não sei bem o que dizer porque essa sugestão revela uma confusão tão profunda que talvez nem seja possível falar sobre ela. De qualquer modo, quando eu falo sobre veganismo, estou falando sobre não comer nem usar nenhum animal, nem nenhum produto derivado de animal, para qualquer propósito humano que seja. Mas mesmo que você restrinja seu entendimento do veganismo a “uma dieta vegana”, você ainda está defendendo a eliminação de uma prática que envolve mais animais do que todos os outros usos de animais combinados, porque todo mundo consome animais e produtos de origem animal.
Além disso, todo uso de animais é derivativo do fato de comermos animais e produtos animais. Se isso mudasse, todo o resto iria atrás. Por exemplo, uma pessoa que aceita o fato de que tem a obrigação moral de não comer animais nem produtos animais necessariamente aceitaria também o fato de que não deve usar peles nem ir a circos. Portanto, o veganismo é qualitativamente diferente de uma campanha contra a pele que tem como alvo um segmento relativamente pequeno do público, ou de uma campanha pelo vegetarianismo que, implícita ou explicitamente, distingue a carne dos outros produtos animais e passa a mensagem de que está certo consumir produtos animais que não contenham carne.
Espero que isto ajude a esclarecer a questão das campanhas de um só tema. Elas realmente não funcionam e apenas deixam as pessoas confusas pois reforçam a falsa ideia de que certas formas de exploração animal são menos objetáveis do que outras.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E você ainda se pergunta por que o público pensa que os defensores dos “direitos animais” são loucos?

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 2 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Do artigo The Rise of Dog Identity Politics [A ascensão da política da identidade canina] na New York Magazine:
Para Singer e Newkirk, a bestialidade não é, em todas as circunstâncias, proibida. “Se não for exploração e abuso, pode não ser uma coisa errada”, disse ela.
Singer, vocês se lembram, argumentou, alguns anos atrás, que pode haver atividades sexuais mutuamente satisfatórias entre humanos e animais.
Mas estou perplexo com a declaração de Newkirk. Quando é que sexo com um animal não-humano não é exploração e abuso?
O artigo da New York Magazine também diz:
Embora a declaração de missão da PETA inclua uma linguagem que dá a entender que cada vida animal tem valor intrínseco, as ações da organização mostram um quadro com mais nuances. A PETA mata um número surpreendente de animais que acolhe. Na década iniciada em 1998, a PETA praticou eutanásia em 17.000 animais —85 por cento dos que ela havia resgatado.
Talvez a resposta à minha pergunta seja que sexo com um animal não-humano não é exploração e abuso depois que o animal “resgatado” for morto (por um grupo de “direitos animais”) mas ainda estiver quente.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Campanhas de um só tema nos contextos humano e não-humano

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 1 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Ontem à noite eu recebi o seguinte e-mail, em resposta aos meus posts sobre as campanhas centradas em um só tema:
Prof. Francione:
Se as campanhas de um só tema não são boas, então quer dizer que não devemos apoiar o auxílio a quem sofre no Haiti porque não estamos auxiliando quem sofre nos demais lugares? Isso não leva a não fazer nada?
[nome]
Boa pergunta. Eu já tratei desse assunto antes, mas, considerando o que tenho postado recentemente, é bom tratar disso outra vez.
Quando apoiamos o auxílio no Haiti, não estamos defendendo a ideia de que o sofrimento nos demais lugares é bom. Todos nós reconhecemos que o sofrimento de humanos inocentes é uma coisa ruim, onde quer que ocorra. O fato de optarmos pela ajuda no Haiti não significa que achamos que o sofrimento humano em, digamos, Darfur, seja bom, ou que quem vive em Darfur tenha menos importância. Semelhantemente, o fato de optarmos por trabalhar com questões de abuso infantil não significa que achamos o estupro aceitável, ou menos objetável no plano moral.
Em suma, se X, Y e Z são todos vistos como moralmente indesejáveis, a escolha de trabalhar com X não transmite uma mensagem de que Y e Z são moralmente aceitáveis.
Quando se trata de animais, a análise é diferente. A maioria das pessoas pensa que comer carnes, laticínios e todos os outros produtos animais, ou usar animais para roupas e outros produtos, é tão natural quanto tomar água ou respirar. Então, quando escolhemos uma determinada forma de exploração animal, nós necessariamente a distinguimos para propósitos morais.
Ou seja, se a maioria das pessoas pensa que comer carne, laticínios e ovos é “natural” e não constitui nenhum problema moral, focar na carne transmite, necessariamente, a ideia de que laticínios e ovos são diferentes e que seu uso é moralmente aceitável ou, pelo menos, distinguível moralmente.
Em suma, se X, Y e Z são todos vistos como moralmente aceitáveis, e se você escolhe X como moralmente problemático, você implicitamente está dizendo ao público que Y e Z são diferentes de X, e que não são inaceitáveis moralmente, ou são pelo menos moralmente distinguíveis de X.
Vemos esse problema todos os dias: as pessoas pensam que pele é moralmente diferente de couro, lã ou seda; elas pensam que carne é moralmente diferente dos outros produtos animais.
Esse é o problema das campanhas centradas em um só tema, no contexto da exploração animal. O mesmo problema não existe quando se trata de questões humanas.
E nós não precisamos de campanhas de um só tema para nos engajar no ativismo incremental. Há uma coisa que cada um de nós pode fazer todos os dias: ser vegano(a) e se engajar na educação vegana não-violenta criativa.
Deixe-me ser bem claro: Eu penso que as campanhas de um só tema são problemáticas e correm o risco de perpetuar a confusão até nas circunstâncias mais ideais. Acho que os defensores devem ficar longe de campanhas de um só tema. Se você insistir em se engajar em campanhas de um só tema, por favor pelo menos assegure que vai tentar diminuir a confusão, garantindo que a mensagem da “não exploração” fique explícita e clara como a água. Por exemplo, se um circo vem à cidade e você quer protestar contra esse evento, pelo menos garanta (além de ser pacífico e não-violento em seu protesto) que, nos seus folhetos educativos e em todas as suas conversas com as pessoas, fique bem explicado que os circos são meros representantes do problema geral da exploração animal, e que temos de parar de comer animais e parar completamente de usá-los. Use o circo como um “tópico de discussão”, mas não o caracterize como moralmente distinguível das outras formas de exploração animal.


Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre Johnny Weir, campanhas de um só tema, tratamento e veganismo abolicionista

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 31 de janeiro de 2010

Caros(as) colegas:
Conforme declarei em meu ensaio no blog, eu acho que a questão Weir foi uma má ideia. Dado que todos os patinadores estão usando couro, lã, etc., o esforço foi semelhante a tentar fazer com que uma pessoa num banquete de filé não consuma uma colher de chá da sua porção de sorvete.
A carta aberta da Friends of Animals a Johnny Weir é um perfeito exemplo daquilo que eu considero o problema central da abordagem campanhas centradas em um só tema: a carta é dirigida a Weir porque ele anunciou que planejava usar pele. Não foi uma carta aberta à equipe inteira, relativa ao uso de peles de animais, incluindo seus patins de couro ou quaisquer peças de vestuário de lã ou seda. Não há nenhuma distinção moral coerente entre pele, couro, lã e seda. Weir, de forma muito efetiva, desviou a atenção do assunto principal da carta aberta, fazendo, ele mesmo, essa simples observação.
Além disso, a carta aberta foca em questões de tratamento, e não no uso, o que eu considero inconsistente com uma abordagem abolicionista. Francamente, é irrelevante se a raposa foi morta numa fazenda de peles ou numa armadilha acolchoada, ou não acolchoada, ou de laço, etc. Se a raposa fosse criada num ambiente agradável e depois fosse morta sem dor, enquanto estivesse dormindo, ainda assim eu consideraria isso objetável. A carta aberta dá ao público a impressão de que o problema é como a raposa foi tratada, e não que a raposa foi usada.
Conforme escrevi (inúmeras vezes), menos sofrimento é sempre melhor do que mais sofrimento, e eu concordo com esta passagem da carta aberta: “Tanto num modo como no outro [fazenda de pele ou armadilha], não há nada de glamoroso nem bonito na crueldade sofrida por eles. E isso também não pode ser moralmente justificado”. Mas isso negligencia o fato de que, embora a crueldade seja uma questão importante, o ponto principal não é que a crueldade não pode ser moralmente justificada; o ponto principal é que o uso —por mais “humanitário” que seja— não pode ser moralmente justificado. Essa é a ideia que devemos apresentar clara e inequivocamente ao público, se for para algum dia sairmos do paradigma do uso “humanitário”.
E que diferença faz se as raposas são “bonitas”, coisa que foi mencionada duas vezes na carta aberta?  Se elas fossem feias, faria alguma diferença? É precisamente esse modo de pensar que nos leva a ficar preocupados com a matança dos bebês focas, mas menos preocupados com a exploração dos animais que achamos menos atraentes. Não deveríamos reforçar a noção de que os animais que importam (ou importam mais) são aqueles que achamos atraentes, assim como não devemos promover a noção de que aparece uma modelo “linda” num comercial vegano qualquer.
Eu apoio os esforços da FoA ou qualquer outro grupo ou pessoa que apoie o veganismo ético. Mas, de todo modo, promover o veganismo não equivale, necessariamente, a promover a abolição, a qual, pelas razões que já expus em meus livros, artigos e ensaios, exclui esses tipos de abordagens que focam no tratamento e envolvem campanhas centradas em um só tema. Essa é uma razão pela qual eu frequentemente uso a expressão vegano abolicionista. Nem todos os veganos são necessariamente abolicionistas.
Eu certamente desejo que a HSUS lance uma campanha “Seja vegano(a)”, mas, mesmo se a HSUS realizasse essa campanha, isso não a tornaria uma organização abolicionista. Se um grupo promove o veganismo e continua promovendo reformas e campanhas de um só tema, o fato de esse grupo promover o veganismo não significa que ele deixou de ser neobem-estarista. Na realidade, se a HSUS fizesse a campanha “Seja vegano(a)”, iria parecer que a HSUS e a FoA são muito semelhantes! (A FoA tem um certo número de campanhas centradas em um só tema). Talvez isso explique por que a FoA estava se opondo à abordagem “Seja vegano(a)” que pedi para a HSUS adotar. Talvez a FoA tenha tentado evitar se transformar numa “HSUS light” e ficar na segunda facção que Vincent Guihan identificou em seu ensaio Of HSUS and Hegemony: Abolitionist Veganism as a Rising Force [Da HSUS e a hegemonia: o veganismo abolicionista como uma força em ascensão].
Conforme mencionei no ensaio anterior, estendi um convite aberto a Priscilla Feral para que ela discuta essas questões comigo num podcast. Espero que ela aceite meu convite.


Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda